domingo, 5 de junho de 2011

Sci-fi distópicos

Bom, este meu fim de semana foi regado a filmes distópicos de ficção científica. Blade Runner, THX 1138 e neste momento assisto ao Brazil. Eu adoro esse gênero! Sou doente por distopias... Eu gostaria de ter amnésia só para poder ler novamente o 1984, do Orwell. Acho esse livro a maior obra-prima da raça humana. Mas voltando ao tema, eu adoro essa ambientação World of Darkness (sou jogadora de Mago: A Ascensão, né...).

O THX tem algumas coisas que lembram muito o Admirável Mundo Novo, do Huxley. Os personagens devem ingerir drogas para se anestesiarem, não terem sentimentos mais profundos. O soma, do AMN, é um pouco diferente. É uma droga mais obviamente recreativa, ficando a intenção sedativa mais pela crítica. De qualquer forma, creio que a temática de anestesiação dos sentimentos mais sobressalentes seja constante em obras distópicas, seja através de fármacos ou de lavagem cerebral (sendo esse recurso normalmente mais fraco). No THX, chega a ser considerado crime de evasão o não uso de drogas, ou o uso não suficiente para a dopagem exigida. No Blade Runner, só ressalto duas coisas a esse respeito: primeiramente o outdoor repetitivo incentivando o consumo de Coca-Cola (crítica social ou patrocínio?? rs) e o consumo de álcool do Deckard (inclusive tem uma seqüência no bar de uma "casa de dançarinas exóticas", digamos assim).

O sexo também é considerado de forma divergente nas diferentes obras. No THX, sexo é crime (a LUH chega a trocar as pílulas do THX para que ele tenha algum sentimento por ela). No ANM, sexo é incentivado, mas apenas para recreação. Sexo com fins de procriação não chega nem a ser crime, pois é um absurdo retrógrado totalmente repugnante para a sociedade. Palavras como "pai" e "mãe" não são pronunciadas sem deboche, risos nervosos ou asco. No 1984, pelo que lembro, os casais fazem sexo para procriação, e há prostitutas para fins recreativos, que não são lá muito atraentes. Mas sexo por prazer entre um casal é um ato de rebeldia e transgressão social, ou realizado apenas pelas classes mais baixas. Não me lembro direito desses detalhes, se alguém puder corrigir ou acrescentar, agradeço! No Blade Runner, há dançarinas exóticas; creio que não exista nenhuma regulamentação legal ou social acerca do sexo com fins recreativos ou "procriativos". E no Brazil, é bem forte a questão da busca feminina por beleza e juventude. Há uma competição entre duas senhoras, com dois cirurgiões plásticos com técnicas diferentes, que acaba acarretando a morte de uma delas (ou não, a seqüência é bem onírica!). Também dá a entender que a mãe do personagem principal, uma dessas duas senhoras, é amante de vários homens, e até consegue favores profissionais para seu filho devido a isso.

O THX também tem algumas coisas bem óbvias do 1984, como aquele "confessionário" religioso. Totalmente Grande Irmão! Nessa parte também há outra influência do ANM, com mensagens do gênero "as massas são mais importantes", "devo ser feliz por produzir e consumir", e afins. Achei que o consumismo aparece mais sutilmente no Brazil, que se passa em época de Natal, e tem uma cena rápida de alguém com uma placa escrito algo do tipo "consumidores cristãos".
O Brazil começa com uma questão que remete inconfundivelmente ao 1984: "o Ministério da Informação cresceu demais. Em uma sociedade livre, a informação é vital", e um senhor trabalhando em uma sala cheia de máquinas com papéis, que poderia muito bem estar realizando o mesmo trabalho do Winston Smith, editando notícias. Atrás da mesa desse senhor, o cartaz "loose talk is noose talk", com uma boca cadeada.
As frases imperativas, de propaganda, são muito comuns nas distopias. São geralmente curtas, axiomáticas, fáceis de decorar e abrangentes para poderem ser repetidas em quaisquer situações. Muitas vezes, até mesmo frases paradoxais (acho que o Orwell é o campeão nessa área). No Brazil, temos "A suspeita cria confiança", "não suspeite de um amigo: denuncie-o". O ANM também tem. Lembro que a Lenina vivia repetindo muitas. Também havia cânticos, que eram entoados coletivamente em rituais bem catárticos com teor sexual.

Bom, acabei de ver o Brazil inteiro, e achei bastante decepcionante. Tem sacadas muito boas, algumas bem "montypythianas", mas não acrescenta nada a quem já conhece 1984. Confesso que a partir de 2/3 do filme, eu já estava de saco cheio e ansiosa para que acabasse. Fiquei me perguntando se o fim seria diferente do 1984. Vou fazer um spoiler: não é. Resumindo, o Brazil é uma cópia - longa - de 1984, com pouquíssimas coisas a mais.

Estou morrendo de vontade de rever Soylent Green! Esse sim, recomendo muitíssimo! E o Fahrenheit 451, que é muito bom! Esses dois vi já há uns 4 anos, então não lembro o suficiente pra arriscar fazer apontamentos mais detalhados como esses deste fim de semana. Talvez futuramente eu os reveja e dialogue melhor com estes a que assisti. Ainda estão na lista: Dark City, Logan's Run e Fuga de Nova York. Ah sim!! E assistir inteiro ao Metrópolis. Eu dormi quando o estava vendo pela primeira vez (que vergonha!!!!!).
Alguém tem sugestões melhores?

Um comentário:

  1. Legal a idéia das resenhas sobre filmes e livros distópicos. Eu ainda estou na pilha de ler livros sobre utopias (nunca vi um filme baseado em utopia literária - deve ser por que não é tão interessante na telona do que nas páginas). Fiz umas resenhas sobre isso no meu blog.

    Outro livro do Huxley que faz uma crítica social é "A Ilha", que é quase um negativo de AMN. É, pra mim, um daqueles livros que mudam vidas. Recomendo fortemente!

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