Enquanto lia o texto "O controle da Sociedade Disciplinar", de Renato Nunes Bittencourt, revista Filosofia - Ciência e Vida: http://portalcienciaevida.uol.com.br/esfi/edicoes/42/artigo160007-1.asp , lembrei-me do filme Fahrenheit 451 (não, não é o filme do Michael Moore), escrito por Ray Bradbury e dirigido por Truffaut (sendo seu primeiro filme colorido, em 66). A última página do texto supracitado diz "Outro grande ponto em comum que podemos encontrar nas grandes distopias literárias de Huxley e Orwell consiste na demonização da leitura e dos livros", o que é exatamente a premissa principal do Fahrenheit 451 (cujo título faz menção à temperatura do fogo, no qual os livros são queimados).
O autor continua "Nada é pior para o 'bem-estar' social do que a literatura tradicional, pois esta apresenta um caráter sujo, corruptor da condição humana e do status quo da elite no poder. A motivação de repressão aos livros é nítida: a leitura favorece a reflexão, logo, a politização do indivíduo e sua capacidade de transformar a sociedade, questionando a arbitrariedade do poder. O projeto iluminista de a racionalidade conduzir o homem cai por terra na era da insana sociedade disciplinar, com o seu porvir distópico ameaçando a sanidade de nossa controlada 'paz' social."
Porém, remeto-me a um outro texto da revista Filosofia, sobre a Escola de Frankfurt, falando sobre a ilusão iluminista da salvação humana através da razão ( http://portalcienciaevida.uol.com.br/esfi/edicoes/44/artigo163672-3.asp matéria de João E. Neto, "Dialética do Virtual", na edição 44):
"[...] o ponto de partida do Iluminismo é uma extrema confiança no poder da razão esclarecida, cujo desenvolvimento progressivo levaria a humanidade a uma melhoria de condições sociais, políticas, morais e materiais. Os conhecimentos científicos e técnicos, fruto dessa razão esclarecida, serviriam como ferramentas para promover a caminhada da civilização ao progresso. No mesmo sentido, esse desenrolar progressista da razão também conduziria os homens à libertação em relação aos mitos, superstições, dogmas e tiranias. Assim sendo, somente através do pensamento esclarecido é que a humanidade chegaria à maturidade, pois o homem emancipado seria um sujeito autorreflexivo e guiado por seu próprio intelecto.
Em a Dialética do Esclarecimento, entretanto, Adorno e Horkheimer colocaram em xeque esse otimismo iluminista em relação à razão esclarecida e ao contínuo progresso material e espiritual da humanidade."
"[Para esses autores], a relação que a razão iluminista estabeleceu com a natureza foi uma relação de dominação e controle.
[...] fazendo uso do experimento científico e matematizando os fenômenos naturais, o ser humano poderia desvendar os segredos do mundo e, assim, dominá-lo. O homem deveria se tornar um sujeito conhecedor e dominador, enquanto que o mundo teria de ser o objeto a ser conhecido e dominado. Influenciados principalmente pelo pensamento de Freud (1856-1939) e Nietzsche (1844-1900), os frankfurtianos afirmam que essa tendência iluminista de dominação do mundo seria, no entanto, fruto do medo de desintegração do sujeito frente aos desconhecidos perigos da natureza.
[...] Desse 'medo o homem presume estar livre quando não há mais nada de desconhecido', quando ele, através de sua razão esclarecida, consegue desvendar e controlar a natureza (Dialética do Esclarecimento, p.26)."
Observando a situação na qual o mundo se encontra atualmente, percebe-se que a proposta de progresso Iluminista, cartesiana, foi uma grande ilusão, que apenas relegou à "Ciência" o mesmo lugar onde se encontravam os mitos e as religiões, sendo incapaz de prover ao homem a realização prometida.
Em Fahrenheit, os bombeiros não apagam o fogo: iniciam-no. Mais especificamente, contra livros e demais obras escritas. Fica clara a representação do livro nas distopias totalitárias (me pergunto se isso é uma redundância, pois não conheço todas as obras distópicas existentes, apesar de perceber que esse sistema político é uma constante em tal estilo), passando uma mensagem subjacente de que a leitura, e, consequentemente, o conhecimento, é um perigo para o sistema, pois torna as pessoas críticas e potencialmente autônomas. Ao contrário das distopias de Huxley e Orwell, o sci-fi de Bradbury termina com um tom mais otimista (sem spoilers, ok?), mas tem a ver com o simbolismo da fênix, do renascimento a partir das cinzas... Bem, esse filme é bem recheado de metáforas. Os nomes dos personagens, por exemplo, merecem uma análise à parte. A relação de Montag com a esposa, as demais relações familiares, as formas de entretenimento, são também alguns itens que merecem atenção na obra.
Enfim, não me proponho a fazer uma análise desse filme especificamente pois não pretendo revê-lo em breve, por motivos sentimentais envolvendo um ex-namorado, haha. E como faz tempo que o vi, já não lembro dos detalhes. Mas recomendo-o, apesar de preferir as distopias com finais mais niilistas, por assim dizer.
Resenhas da Garota Psykóze
Impressões sobre aquelas coisas a que eu assisto e não quero que se percam nas brumas do meu cérebro
terça-feira, 3 de janeiro de 2012
domingo, 5 de junho de 2011
Sci-fi distópicos
Bom, este meu fim de semana foi regado a filmes distópicos de ficção científica. Blade Runner, THX 1138 e neste momento assisto ao Brazil. Eu adoro esse gênero! Sou doente por distopias... Eu gostaria de ter amnésia só para poder ler novamente o 1984, do Orwell. Acho esse livro a maior obra-prima da raça humana. Mas voltando ao tema, eu adoro essa ambientação World of Darkness (sou jogadora de Mago: A Ascensão, né...).
O THX tem algumas coisas que lembram muito o Admirável Mundo Novo, do Huxley. Os personagens devem ingerir drogas para se anestesiarem, não terem sentimentos mais profundos. O soma, do AMN, é um pouco diferente. É uma droga mais obviamente recreativa, ficando a intenção sedativa mais pela crítica. De qualquer forma, creio que a temática de anestesiação dos sentimentos mais sobressalentes seja constante em obras distópicas, seja através de fármacos ou de lavagem cerebral (sendo esse recurso normalmente mais fraco). No THX, chega a ser considerado crime de evasão o não uso de drogas, ou o uso não suficiente para a dopagem exigida. No Blade Runner, só ressalto duas coisas a esse respeito: primeiramente o outdoor repetitivo incentivando o consumo de Coca-Cola (crítica social ou patrocínio?? rs) e o consumo de álcool do Deckard (inclusive tem uma seqüência no bar de uma "casa de dançarinas exóticas", digamos assim).
O sexo também é considerado de forma divergente nas diferentes obras. No THX, sexo é crime (a LUH chega a trocar as pílulas do THX para que ele tenha algum sentimento por ela). No ANM, sexo é incentivado, mas apenas para recreação. Sexo com fins de procriação não chega nem a ser crime, pois é um absurdo retrógrado totalmente repugnante para a sociedade. Palavras como "pai" e "mãe" não são pronunciadas sem deboche, risos nervosos ou asco. No 1984, pelo que lembro, os casais fazem sexo para procriação, e há prostitutas para fins recreativos, que não são lá muito atraentes. Mas sexo por prazer entre um casal é um ato de rebeldia e transgressão social, ou realizado apenas pelas classes mais baixas. Não me lembro direito desses detalhes, se alguém puder corrigir ou acrescentar, agradeço! No Blade Runner, há dançarinas exóticas; creio que não exista nenhuma regulamentação legal ou social acerca do sexo com fins recreativos ou "procriativos". E no Brazil, é bem forte a questão da busca feminina por beleza e juventude. Há uma competição entre duas senhoras, com dois cirurgiões plásticos com técnicas diferentes, que acaba acarretando a morte de uma delas (ou não, a seqüência é bem onírica!). Também dá a entender que a mãe do personagem principal, uma dessas duas senhoras, é amante de vários homens, e até consegue favores profissionais para seu filho devido a isso.
O THX também tem algumas coisas bem óbvias do 1984, como aquele "confessionário" religioso. Totalmente Grande Irmão! Nessa parte também há outra influência do ANM, com mensagens do gênero "as massas são mais importantes", "devo ser feliz por produzir e consumir", e afins. Achei que o consumismo aparece mais sutilmente no Brazil, que se passa em época de Natal, e tem uma cena rápida de alguém com uma placa escrito algo do tipo "consumidores cristãos".
O Brazil começa com uma questão que remete inconfundivelmente ao 1984: "o Ministério da Informação cresceu demais. Em uma sociedade livre, a informação é vital", e um senhor trabalhando em uma sala cheia de máquinas com papéis, que poderia muito bem estar realizando o mesmo trabalho do Winston Smith, editando notícias. Atrás da mesa desse senhor, o cartaz "loose talk is noose talk", com uma boca cadeada.
As frases imperativas, de propaganda, são muito comuns nas distopias. São geralmente curtas, axiomáticas, fáceis de decorar e abrangentes para poderem ser repetidas em quaisquer situações. Muitas vezes, até mesmo frases paradoxais (acho que o Orwell é o campeão nessa área). No Brazil, temos "A suspeita cria confiança", "não suspeite de um amigo: denuncie-o". O ANM também tem. Lembro que a Lenina vivia repetindo muitas. Também havia cânticos, que eram entoados coletivamente em rituais bem catárticos com teor sexual.
Bom, acabei de ver o Brazil inteiro, e achei bastante decepcionante. Tem sacadas muito boas, algumas bem "montypythianas", mas não acrescenta nada a quem já conhece 1984. Confesso que a partir de 2/3 do filme, eu já estava de saco cheio e ansiosa para que acabasse. Fiquei me perguntando se o fim seria diferente do 1984. Vou fazer um spoiler: não é. Resumindo, o Brazil é uma cópia - longa - de 1984, com pouquíssimas coisas a mais.
Estou morrendo de vontade de rever Soylent Green! Esse sim, recomendo muitíssimo! E o Fahrenheit 451, que é muito bom! Esses dois vi já há uns 4 anos, então não lembro o suficiente pra arriscar fazer apontamentos mais detalhados como esses deste fim de semana. Talvez futuramente eu os reveja e dialogue melhor com estes a que assisti. Ainda estão na lista: Dark City, Logan's Run e Fuga de Nova York. Ah sim!! E assistir inteiro ao Metrópolis. Eu dormi quando o estava vendo pela primeira vez (que vergonha!!!!!).
Alguém tem sugestões melhores?
O THX tem algumas coisas que lembram muito o Admirável Mundo Novo, do Huxley. Os personagens devem ingerir drogas para se anestesiarem, não terem sentimentos mais profundos. O soma, do AMN, é um pouco diferente. É uma droga mais obviamente recreativa, ficando a intenção sedativa mais pela crítica. De qualquer forma, creio que a temática de anestesiação dos sentimentos mais sobressalentes seja constante em obras distópicas, seja através de fármacos ou de lavagem cerebral (sendo esse recurso normalmente mais fraco). No THX, chega a ser considerado crime de evasão o não uso de drogas, ou o uso não suficiente para a dopagem exigida. No Blade Runner, só ressalto duas coisas a esse respeito: primeiramente o outdoor repetitivo incentivando o consumo de Coca-Cola (crítica social ou patrocínio?? rs) e o consumo de álcool do Deckard (inclusive tem uma seqüência no bar de uma "casa de dançarinas exóticas", digamos assim).
O sexo também é considerado de forma divergente nas diferentes obras. No THX, sexo é crime (a LUH chega a trocar as pílulas do THX para que ele tenha algum sentimento por ela). No ANM, sexo é incentivado, mas apenas para recreação. Sexo com fins de procriação não chega nem a ser crime, pois é um absurdo retrógrado totalmente repugnante para a sociedade. Palavras como "pai" e "mãe" não são pronunciadas sem deboche, risos nervosos ou asco. No 1984, pelo que lembro, os casais fazem sexo para procriação, e há prostitutas para fins recreativos, que não são lá muito atraentes. Mas sexo por prazer entre um casal é um ato de rebeldia e transgressão social, ou realizado apenas pelas classes mais baixas. Não me lembro direito desses detalhes, se alguém puder corrigir ou acrescentar, agradeço! No Blade Runner, há dançarinas exóticas; creio que não exista nenhuma regulamentação legal ou social acerca do sexo com fins recreativos ou "procriativos". E no Brazil, é bem forte a questão da busca feminina por beleza e juventude. Há uma competição entre duas senhoras, com dois cirurgiões plásticos com técnicas diferentes, que acaba acarretando a morte de uma delas (ou não, a seqüência é bem onírica!). Também dá a entender que a mãe do personagem principal, uma dessas duas senhoras, é amante de vários homens, e até consegue favores profissionais para seu filho devido a isso.
O THX também tem algumas coisas bem óbvias do 1984, como aquele "confessionário" religioso. Totalmente Grande Irmão! Nessa parte também há outra influência do ANM, com mensagens do gênero "as massas são mais importantes", "devo ser feliz por produzir e consumir", e afins. Achei que o consumismo aparece mais sutilmente no Brazil, que se passa em época de Natal, e tem uma cena rápida de alguém com uma placa escrito algo do tipo "consumidores cristãos".
O Brazil começa com uma questão que remete inconfundivelmente ao 1984: "o Ministério da Informação cresceu demais. Em uma sociedade livre, a informação é vital", e um senhor trabalhando em uma sala cheia de máquinas com papéis, que poderia muito bem estar realizando o mesmo trabalho do Winston Smith, editando notícias. Atrás da mesa desse senhor, o cartaz "loose talk is noose talk", com uma boca cadeada.
As frases imperativas, de propaganda, são muito comuns nas distopias. São geralmente curtas, axiomáticas, fáceis de decorar e abrangentes para poderem ser repetidas em quaisquer situações. Muitas vezes, até mesmo frases paradoxais (acho que o Orwell é o campeão nessa área). No Brazil, temos "A suspeita cria confiança", "não suspeite de um amigo: denuncie-o". O ANM também tem. Lembro que a Lenina vivia repetindo muitas. Também havia cânticos, que eram entoados coletivamente em rituais bem catárticos com teor sexual.
Bom, acabei de ver o Brazil inteiro, e achei bastante decepcionante. Tem sacadas muito boas, algumas bem "montypythianas", mas não acrescenta nada a quem já conhece 1984. Confesso que a partir de 2/3 do filme, eu já estava de saco cheio e ansiosa para que acabasse. Fiquei me perguntando se o fim seria diferente do 1984. Vou fazer um spoiler: não é. Resumindo, o Brazil é uma cópia - longa - de 1984, com pouquíssimas coisas a mais.
Estou morrendo de vontade de rever Soylent Green! Esse sim, recomendo muitíssimo! E o Fahrenheit 451, que é muito bom! Esses dois vi já há uns 4 anos, então não lembro o suficiente pra arriscar fazer apontamentos mais detalhados como esses deste fim de semana. Talvez futuramente eu os reveja e dialogue melhor com estes a que assisti. Ainda estão na lista: Dark City, Logan's Run e Fuga de Nova York. Ah sim!! E assistir inteiro ao Metrópolis. Eu dormi quando o estava vendo pela primeira vez (que vergonha!!!!!).
Alguém tem sugestões melhores?
quinta-feira, 7 de abril de 2011
Um faz de conta que acontece, 2008, Adam Sandler
Para variar, como boa pessoa desregrada que sou, em vez de prolongar minha pesquisa sobre o filme anterior, acabei assistindo a outro. Mas não achei que seja um filme "comentável"... É o "Um faz de conta que acontece" (Bedtime stories, 2008), do Adam Sandler. Eu adoro o Adam Sandler! Porém, os filmes dele não são a coisa mais profunda do mundo... E a premissa de todos os seus filmes é basicamente a mesma. Bem, a proposta do cara é entretenimento, saudável e familiar, sem apelações. E ele cumpre o que promete. Mas sem mais. Estou baixando toda a filmografia desse que é um dos meus comediantes preferidos, junto com Dana Carvey, Dan Aykroyd... Sou fã dos "espólios" do Saturday Night Live pré mid 90's, hehe. Mas meu filme preferido do Adam Sandler é Afinado no Amor (Wedding Singer, 1998), que conta com meu dublador preferido na versão dublada, o Alexandre Moreno. *-*
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quarta-feira, 6 de abril de 2011
O Gabinete do dr. Caligari, 1920, R. Wiene
Primeiramente, percebi que será impossível assistir a um filme por dia, pois os assistirei depois da aula, de madrugada. Não terei tempo suficiente para ver o filme, fazer minhas observações, e realizar uma pesquisa minimamente interessante sobre o estilo do filme, sua história, contexto, direção, atores... Então irei ver e postar meus comentários aqui em um dia, e fazer a pesquisa no outro, ou no seguinte, fechando em dois filmes por semana...
Hoje, acabei optando por assistir a "O Gabinete do dr. Caligari", por seu significado simbólico para mim. Eu o vi pela primeira vez na tv, por acaso, e pirei muito com sua estética! Foi amor à primeira vista e, a partir disso, comecei a me interessar por Expressionismo e (também por causa da Clara Bow) por cinema mudo. Sou suspeita para falar. Além de amar a estética dos anos 20 e do Expressionismo, adoro todo esse contraste fabuloso! O sangue alemão que corre em minhas veias borbulha com essa forte expressão de criatividade e drama. Impossível não pensar como o povo alemão brindou o mundo com mostras extremas do potencial humano: da criatividade à crueldade, das mais altas artes (sublimação? hehe) ao mais baixo sadismo... Sou da Psicanálise, não consigo evitar de pensar nisso axialmente. Enfim.
Bem, antes mesmo de começar o filme, já se percebe a importância das cores e formas. Nos letreiros, a fonte é disforme, as cores são fortes e contrastantes, há um impacto visual. Quando Franzis começa a contar sua história, o cenário mostra sua vila desenhada com linhas estranhas, convergentes ou divergentes, nunca paralelas, as portas das casas são pequenas, mas os móveis (principalmente cadeiras e bancos) são enormes, os personagens são estranhos, os closes são dramáticos. Até a música é disforme e causa desconforto (curioso que em alguns momentos a trilha sonora se parece com jazz que, pelo que me consta, surgiu nos EUA nos anos 10).
No início do filme aparecem alguns elementos como a curiosidade pela própria finitude (quando Alan pergunta ao sonâmbulo Cesare quando irá morrer), um triângulo amoroso entre dois amigos (que dura pouco tempo de filme), e, em geral, temas como loucura, perdas de pessoas queridas, assassínio... Acho que fica claro para qualquer um que assista, por mais que não saiba nada sobre Expressionismo, que esse tipo de filme não tem a pretensão de mostrar, de forma neutra, fatos reais. O jogo de luz e sombra, as formas tortuosas, as expressões faciais exageradas... Tudo isso indica claramente que a história diz respeito ao ponto de vista de alguém, incluindo seus sentimentos sobre tais lembranças. Estou tomando cuidado para colocar minhas impressões de forma a não entregar o final do filme, pois essa foi uma das primeiras obras (se não a primeira - pesquisarei isso amanhã) a apresentar um "plot twist", um final inesperado...
Há ainda espaço para teorizar sobre o lugar da loucura, que sempre andou junto com a criminalidade - pelo menos na representação social -, as relações de poder entre o louco e o "normal", e talvez a questão mor do Expressionismo... o que é o real? Ou, o que é o real à parte do eu?
Pretendo explorar isso um pouco melhor amanhã, mas há que se lembrar que a Primeira Guerra Mundial terminou em 1918, tendo, obviamente, influenciado no cinema alemão. Freud e Nietzsche também representaram forte influência. Ainda, para terminar, há que se mencionar o ator Conrad Veidt (Cesare), cujo papel posterior em O Homem que Ri (1928) inspirou o futuro personagem Coringa, vilão do Batman. Não é pouco para um artista, hein!
Então, recomendo MUITÍSSIMO "O Gabinete do dr. Caligari", para um deleite visual e artístico, além de questionamentos psicológicos, sociais e culturais...
Hoje, acabei optando por assistir a "O Gabinete do dr. Caligari", por seu significado simbólico para mim. Eu o vi pela primeira vez na tv, por acaso, e pirei muito com sua estética! Foi amor à primeira vista e, a partir disso, comecei a me interessar por Expressionismo e (também por causa da Clara Bow) por cinema mudo. Sou suspeita para falar. Além de amar a estética dos anos 20 e do Expressionismo, adoro todo esse contraste fabuloso! O sangue alemão que corre em minhas veias borbulha com essa forte expressão de criatividade e drama. Impossível não pensar como o povo alemão brindou o mundo com mostras extremas do potencial humano: da criatividade à crueldade, das mais altas artes (sublimação? hehe) ao mais baixo sadismo... Sou da Psicanálise, não consigo evitar de pensar nisso axialmente. Enfim.
Bem, antes mesmo de começar o filme, já se percebe a importância das cores e formas. Nos letreiros, a fonte é disforme, as cores são fortes e contrastantes, há um impacto visual. Quando Franzis começa a contar sua história, o cenário mostra sua vila desenhada com linhas estranhas, convergentes ou divergentes, nunca paralelas, as portas das casas são pequenas, mas os móveis (principalmente cadeiras e bancos) são enormes, os personagens são estranhos, os closes são dramáticos. Até a música é disforme e causa desconforto (curioso que em alguns momentos a trilha sonora se parece com jazz que, pelo que me consta, surgiu nos EUA nos anos 10).
No início do filme aparecem alguns elementos como a curiosidade pela própria finitude (quando Alan pergunta ao sonâmbulo Cesare quando irá morrer), um triângulo amoroso entre dois amigos (que dura pouco tempo de filme), e, em geral, temas como loucura, perdas de pessoas queridas, assassínio... Acho que fica claro para qualquer um que assista, por mais que não saiba nada sobre Expressionismo, que esse tipo de filme não tem a pretensão de mostrar, de forma neutra, fatos reais. O jogo de luz e sombra, as formas tortuosas, as expressões faciais exageradas... Tudo isso indica claramente que a história diz respeito ao ponto de vista de alguém, incluindo seus sentimentos sobre tais lembranças. Estou tomando cuidado para colocar minhas impressões de forma a não entregar o final do filme, pois essa foi uma das primeiras obras (se não a primeira - pesquisarei isso amanhã) a apresentar um "plot twist", um final inesperado...
Há ainda espaço para teorizar sobre o lugar da loucura, que sempre andou junto com a criminalidade - pelo menos na representação social -, as relações de poder entre o louco e o "normal", e talvez a questão mor do Expressionismo... o que é o real? Ou, o que é o real à parte do eu?
Pretendo explorar isso um pouco melhor amanhã, mas há que se lembrar que a Primeira Guerra Mundial terminou em 1918, tendo, obviamente, influenciado no cinema alemão. Freud e Nietzsche também representaram forte influência. Ainda, para terminar, há que se mencionar o ator Conrad Veidt (Cesare), cujo papel posterior em O Homem que Ri (1928) inspirou o futuro personagem Coringa, vilão do Batman. Não é pouco para um artista, hein!
Então, recomendo MUITÍSSIMO "O Gabinete do dr. Caligari", para um deleite visual e artístico, além de questionamentos psicológicos, sociais e culturais...
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terça-feira, 5 de abril de 2011
Bom, estou na dúvida sobre qual filme ver hoje... O Gabinete do dr. Caligari ou O Fantasma da Ópera, com o Lon Chaney. Eu tinha me programado para ver o primeiro. Porém, estava conferindo o arquivo do segundo, em que idioma estão os intertítulos, se tem legenda, e tal, e vi que tem umas cenas coloridas no meio... Fiquei pirando! Bom, estou indo pra aula. Quando voltar, decido. :-**
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DR
domingo, 3 de abril de 2011
E assim começa mais um blog...
Eu não consigo parar quieta. Sempre inventando algo... Mas não sou daquelas pessoas que só começam coisas e nunca terminam. É verdade que eu não sou do tipo mais estável, mas não dá para dizer que questa donna è mobile! Enfim, inicio este blog com o intuito de sublimar minhas pulsões de criar coletivos, organizações, eventos e afins, pura e simplesmente pelo fato de ter iniciado as atividades de um coletivo há apenas 2 dias. Pois é, eu sou dessas, para o horror e incompreensão de meus "concitadinos"...
O ponto, meus caros, é que eu sou uma downloadeadora compulsiva. E para cortar pela raiz o risco de eu querer organizar mais alguma mostra de filmes, encontro, coletivo, lista de emails, ou coisa que o valha, corri fazer este blog, para comportar meus pensamentos, avaliações, sinopses, resenhas, inquietações, sobre filmes de terror antigos, ficção científica clássicos, noir, expressionistas, filmes mudos, comédias antigas... O que me vier na telha.
Fiquem à vontade para dialogarem comigo. O monólogo aqui é opcional. ^^
Coloquei para mim mesma a meta de assistir a um filme por dia. Ambiciosa, certamente! Mas vamos ver aonde ela me leva.
Por ora, isso é tudo. Até amanhã, creio eu! =D
O ponto, meus caros, é que eu sou uma downloadeadora compulsiva. E para cortar pela raiz o risco de eu querer organizar mais alguma mostra de filmes, encontro, coletivo, lista de emails, ou coisa que o valha, corri fazer este blog, para comportar meus pensamentos, avaliações, sinopses, resenhas, inquietações, sobre filmes de terror antigos, ficção científica clássicos, noir, expressionistas, filmes mudos, comédias antigas... O que me vier na telha.
Fiquem à vontade para dialogarem comigo. O monólogo aqui é opcional. ^^
Coloquei para mim mesma a meta de assistir a um filme por dia. Ambiciosa, certamente! Mas vamos ver aonde ela me leva.
Por ora, isso é tudo. Até amanhã, creio eu! =D
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