quarta-feira, 6 de abril de 2011

O Gabinete do dr. Caligari, 1920, R. Wiene

Primeiramente, percebi que será impossível assistir a um filme por dia, pois os assistirei depois da aula, de madrugada. Não terei tempo suficiente para ver o filme, fazer minhas observações, e realizar uma pesquisa minimamente interessante sobre o estilo do filme, sua história, contexto, direção, atores... Então irei ver e postar meus comentários aqui em um dia, e fazer a pesquisa no outro, ou no seguinte, fechando em dois filmes por semana...
Hoje, acabei optando por assistir a "O Gabinete do dr. Caligari", por seu significado simbólico para mim. Eu o vi pela primeira vez na tv, por acaso, e pirei muito com sua estética! Foi amor à primeira vista e, a partir disso, comecei a me interessar por Expressionismo e (também por causa da Clara Bow) por cinema mudo. Sou suspeita para falar. Além de amar a estética dos anos 20 e do Expressionismo, adoro todo esse contraste fabuloso! O sangue alemão que corre em minhas veias borbulha com essa forte expressão de criatividade e drama. Impossível não pensar como o povo alemão brindou o mundo com mostras extremas do potencial humano: da criatividade à crueldade, das mais altas artes (sublimação? hehe) ao mais baixo sadismo... Sou da Psicanálise, não consigo evitar de pensar nisso axialmente. Enfim.

Bem, antes mesmo de começar o filme, já se percebe a importância das cores e formas. Nos letreiros, a fonte é disforme, as cores são fortes e contrastantes, há um impacto visual. Quando Franzis começa a contar sua história, o cenário mostra sua vila desenhada com linhas estranhas, convergentes ou divergentes, nunca paralelas, as portas das casas são pequenas, mas os móveis (principalmente cadeiras e bancos) são enormes, os personagens são estranhos, os closes são dramáticos. Até a música é disforme e causa desconforto (curioso que em alguns momentos a trilha sonora se parece com jazz que, pelo que me consta, surgiu nos EUA nos anos 10).

No início do filme aparecem alguns elementos como a curiosidade pela própria finitude (quando Alan pergunta ao sonâmbulo Cesare quando irá morrer), um triângulo amoroso entre dois amigos (que dura pouco tempo de filme), e, em geral, temas como loucura, perdas de pessoas queridas, assassínio... Acho que fica claro para qualquer um que assista, por mais que não saiba nada sobre Expressionismo, que esse tipo de filme não tem a pretensão de mostrar, de forma neutra, fatos reais. O jogo de luz e sombra, as formas tortuosas, as expressões faciais exageradas... Tudo isso indica claramente que a história diz respeito ao ponto de vista de alguém, incluindo seus sentimentos sobre tais lembranças. Estou tomando cuidado para colocar minhas impressões de forma a não entregar o final do filme, pois essa foi uma das primeiras obras (se não a primeira - pesquisarei isso amanhã) a apresentar um "plot twist", um final inesperado...

Há ainda espaço para teorizar sobre o lugar da loucura, que sempre andou junto com a criminalidade - pelo menos na representação social -, as relações de poder entre o louco e o "normal", e talvez a questão mor do Expressionismo... o que é o real? Ou, o que é o real à parte do eu?

Pretendo explorar isso um pouco melhor amanhã, mas há que se lembrar que a Primeira Guerra Mundial terminou em 1918, tendo, obviamente, influenciado no cinema alemão. Freud e Nietzsche também representaram forte influência. Ainda, para terminar, há que se mencionar o ator Conrad Veidt (Cesare), cujo papel posterior em O Homem que Ri (1928) inspirou o futuro personagem Coringa, vilão do Batman. Não é pouco para um artista, hein!

Então, recomendo MUITÍSSIMO "O Gabinete do dr. Caligari", para um deleite visual e artístico, além de questionamentos psicológicos, sociais e culturais...

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